Homenagem a um grande novo amigo e uma sempre sólida amiga.
Ambos sempre estiveram ali, e a vida-amiga, me deu o prazer de re-encontrá-los.
Existe algo de sobrenatural em gostar dos seres humanos gratuitamente.
Creia, é uma experiência extraordinária viver fazendo amigos.
A poesia, não se desloca do sentimento.
A poesia é sempre recado...
Distante do que o autor quis dizer
Perto de quem lhe atribui o significado.
Um dia,
Vários nós....
Muitos compromissos
Um mundo para carregar...
Divide, comparte, espalha...
E daí, aí fica leve...
Baixa a guarda e divide...
No interím, entre amigos - novo lar...
Busca, cala, sente...
Como gente, para gente, de gente se faz gente...
Ama, a felicidade, tem orgulho da alegria...
Cria, recria, um mundo onde quer viver...
E nele fica...
Compromisso - Cecília Meireles
Transportam meus ombros secular compromisso.
Vigílias do olhar não me pertencem;
trabalho dos meus braços
é sobrenatural obrigação.
Perguntam pelo mundo
olhos de antepassados;
querem, em mim, suas mãos
o inconseguido.
Ritmos de construção
enrijeceram minha juventude,
e atrasam-me na morte.
Vive! — clamam os que se foram,
ou cedo ou irrealizados.
Vive por nós! — murmuram suplicantes.
Vivo por homens e mulheres
de outras idades, de outros lugares, com outras falas.
Por infantes e velhinhos trêmulos.
Gente do mar e da terra,
suada, salgada, hirsuta.
Gente de névoa, apenas murmurada.
É como se ali na parede
estivessem a rede e os remos,
o mapa,
e lá fora crescessem uva e trigo,
e à porta se chegasse uma ovelha,
que me estivesse mirando em luar,
e perguntando-se, também.
Esperai! Sossegai!
Esta sou eu –— a inúmera.
Que tem de ser pagã como as árvores
e, como um druida, mística.
Com a vocação do mar, e com seus símbolos.
Com o entendimento tácito,
instintivo,
das raízes, das nuvens,
dos bichos e dos arroios caminheiros.
Andam arados, longe, em minh’alma.
Andam os grandes navios obstinados.
Sou minha assembléia,
noite e dia, lucidamente.
Conduzo meu povo
e a ele me entrego.
E assim nos correspondemos.
Faro do planeta e do firmamento,
bússola enamorada da eternidade,
um sentimento lancinante de horizontes,
um poder de abraçar de envolver
as coisas sofredoras,
e levá-las nos ombros como os anhos e as cruzes.
E somos um bando sonâmbulo
passeando com felicidade
por lugares sem sol nem lua.
Cecília Meireles
in Mar absoluto e outros poemas-1945-
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