O que te inebria?
Um beijo na boca ao amanhecer ou
Acordar nos braços da pessoa amada?
O que te inebria?
O cheiro do café coado pela manhã
Uma xícara de pingado na padaria?
O que te inebria?
O cheiro de terra molhada pela chuva ou
O cheiro de chuva no asfalto?
O que te inebria?
O por de sol no Arpoador ou
A lua vermelha, nascendo em Boa Viagem?
O que te inebria?
O frenesi da Avenida Paulista ou
A tranqüilidade do parque do Ibirapuera?
O que te inebria?
O verde-água das praias de Maceió ou
O colorido das areias em Canoa Quebrada?
O que te inebria?
Uma taça cheia de vinho ao redor de amigos ou
A última gota de vinho ao lado de uma pessoa amada?
O que te inebria?
Patezinhos deliciosos em pãezinhos estranhos ou
Uma bela colherada num risotto ao formaggio?
O que te inebria?
A brisa ao caminhar na praia ou
O vento do campo na sua cara?
O que te inebria?
O fundo colorido do mar, ou
O verdes de colinas, ainda não percorridas?
O que te inebria?
O cheiro da sopa da mamãe ou
A memória de cheiros da casa da vovó?
O que te inebria?
Vestir o jeans logo que tira que varal ou
Usar aquela camisa esgarçada para dormir?
O que te inebria?
Receber em sua casa amigos de outrora e recordar lembranças que sempre estiveram aqui, ou
Receber um e-mail do amigo de trabalho que você não vê a muito tempo com um convite para aquele happy hour?
O que te inebria?
O desejo do amor consentido ou
O pecado no impossível desejado?
O que te inebria?
A fidelidade ao sentido daquilo que consta no seu contrato ou
O desejo da carne consentidamente realizado?
O que te inebria?
O cheiro da grama molhada ou
O cheiro da grama cortada?
O que te inebria?
Fazer aquilo que é correto ou
Atuar por aquilo que é certo?
O que te inebria?
A piscada de olhos azuis da cor do mar ou
Um sorriso de lábios de mel?
O que te inebria?
As memórias resignificadas ou
Aquelas memórias deliciosamente inventadas?
O que te inebria?
Perguntas e pontos de interrogação (?) ou
Respostas cheias de exclamação (!?)
O que te inebria?
Tudo isso ou
Nada daquilo?
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta:
eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Clarice Lispector
O Que Te Inebria?
ResponderExcluirLer um bom texto no blog de um amigo
Dar de cara com a revolta burguesa de Cazuza
ou ler Clarice, ah Clarice!
Parabéns Rani
Abraços
Caro Poeta-Inebriado.
ResponderExcluirGostei da pergunta. Você deveria fazê-la no face. Dize-me o que te inebrias que te direis quem és":-)
Minha resposta são 3 inebriantes: 1) o sorriso desprevenido de uma mulher prevenida; 2) o primeiro gole de vinho, olhando através da taça, o sorriso desprevenido de uma mulher prevenida; 3) outra coisa c/a mulher do sorriso desprevenido, q tenho vergonha de contar aqui:-)
um ab
Edu
Rani,
ResponderExcluirHá algumas situações em que nos encontramos inebriados ou nos permitimos a isso. Nesse caso, o importante acaba não sendo o fim, mas o meio pra se chegar a ele. Momentos assim tornam-se únicos, como se nos maravilhássemos com as supresas que podemos ter nos pequenas atos, que para nós torna-se tão grande quanto o céu ou o sol.
abraço,
Giu