Imagem Gustav Klimt
Devaneios 1/2 (a meio)
Nenhuma palavra, nem rima, nem verso
Nada tenho a escrever
Nada me vem a mente
Porém tudo me consome.
Quero continuar o exercício de gritar
De verso em prosa, o que sinto
Quero evitar o soslaio da vida
Quero encarar você de frente.
Porque o que importa vem
Tudo vem, de repente
É como a brisa que sem pedir licença
invade minha janela, sem continas.
Eu decidi, somente por essa fração de segundo
Não sintetizar, deixar fluir da vida
e o fruir do encontro, dos desencontros
de canto, para todo conto.
Neste mesmo instante decide também,
Não relativizar
As estrelas estão lá no céu, meus olhos crêem nisso.
O universo já é uma invenção.
Gosto da chuva, ela lava a alma
Sou amigo do vento, ele me traz notícias de "alémar"
Tenho uma relação de distancia com o mar, mas ele me enche os olhos
Por fim, sinto saudades do Sol, ele me aquece o coração.
Poemas inconjuntos
alberto caieiro
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Nem é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma;
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma chave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
O espelho reflete certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo
O universo não é uma idéia minha.
A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha.
A noite não anoitece pelos meus olhos,
A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe se tivesse peso.
Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.